Fibra de campeão: Belenenses-F.C. Porto, 0-1

Já a bola rolava há uns quantos minutos quando o F.C. Porto se apercebeu que estava só, que quase tudo quanto acontecesse em cerca de hora e meia seria consequência da sua exclusiva transpiração. Tinha adversário, mas faltava quem consigo quisesse jogar, porque, por vontade do Belenenses, o jogo acabaria no mesmo instante em que começou. Com ou sem temporal, que não passou de uma negra previsão. À excepção dos inevitáveis movimentos defensivos e dos indispensáveis gestos atacantes, o Belenenses confiou cegamente o jogo nos braços do campeão e esperou, até desesperar, pelo erro que não surgiu.Perante um adversário extremamente encolhido, que procurava espartilhá-lo num quarto do espaço disponível, talhado para um conta-ataque efémero, ao ponto de transmitir, durante longos períodos, a sensação de ter abdicado do encontro, e disposto a aguardar pelo lapso adversário, o F.C. Porto viu-se forçado a reinventar articulações e relvado para concretizar intenções e ameaças.O brilho não foi frequente, nem poderia, num terreno minado por chuvas intensas, mas a exibição deixou bem vincada a fibra e a persistência de quem quis vencer desde o primeiro instante e de quem poderia colocar-se em vantagem ao sétimo minuto. Na transformação de um pontapé de canto, Ricardo Quaresma parece ter conseguido o golo, num arco escrupulosamente medido, mas a confirmação de Hélder Postiga acabaria por devolver a bola à linha de baliza, sem que árbitro ou auxiliar confirmassem o tento.Na insistência, a revelada em quase toda a partida e no lance em particular, e já depois de Pepe ter acertado com estrondo na trave, o F.C. Porto acabaria por marcar 34 minutos mais tarde, a quatro do intervalo. Bruno Alves antecipou-se a Marco Gonçalves, permitindo o remate vitorioso de Hélder Postiga, que, além de apontar o único tento do encontro, fez o seu sétimo golo na Liga.Estranhamente, mesmo em desvantagem, o Belenenses preferiu não reagir ao golo de imediato, respondendo já bem para lá do recomeço, e dispondo-se novamente a aguardar pelo erro do opositor, que não surgiria. Por essa e por outras razões, que extravasam o limite da táctica e tiveram em Ricardo Quaresma a sua expressão máxima, o perigo sucedia apenas na aproximação à baliza belenense. Postiga poderia ter marcado de novo, Quaresma trocava o cruzamento aguardado pelo inesperado remate e quase surpreendia. O resto foi gestão. De energias e do encontro, pelo qual o adversário não fez muito.

FICHA DO JOGO

Liga 2006/07 (11ª jornada – 26 Novembro 2006)

Estádio do Restelo, em Lisboa

Árbitro: Olegário Benquerença (Leiria)
Assistentes: Sérgio Serrão e Luís Marcelino e 4º árbitro: Sandro Soares

BELENENSES: Marco Gonçalves; Gaspar, Rolando, Nivaldo e Rodrigo Alvim; Ruben Amorim, Sandro Gaúcho, Silas «cap.» e José Pedro; Roma e Manoel
Substituições: Roma por Eliseu (56m), Ruben Amorim por Cândido Costa (62m) e Manoel por Dady (72m)
Não utilizados: Marco Pinto, Vasco Faísca, Mancuso e Sousa
Treinador: Jorge Jesus

F.C. PORTO: Helton; Bosingwa, Pepe, Bruno Alves e Fucile; Paulo Assunção, Lucho González «cap.» e Raul Meireles; Lisandro Lopez, Hélder Postiga e Quaresma
Substituições: Paulo Assunção por Ibson (46m), Hélder Postiga por Bruno Moraes (69m) e Quaresma por Alan (85m)
Não utilizados: Paulo Ribeiro, Ricardo Costa, Jorginho e João Paulo
Treinador: Jesualdo FerreiraAo intervalo: 0-1
Marcador: Hélder Postiga (41m)
Disciplina: Cartão amarelo a Ruben Amorim (20m), Paulo Assunção (24m), Rodrigo Alvim (50m), Nivaldo (82m), Sandro Gaúcho (88m) e Ibson (90m)
Declarações de Jesualdo Ferreira: «Este jogo teve um cariz e um envolvimento diferente do jogo na Rússia. Hoje o F.C. Porto não esteve tão fulgurante como em jogos anteriores, por culpa do Belenenses, que praticamente não atacou na primeira parte. Ainda assim tivemos oportunidades para marcar mais do que um golo. Na segunda parte controlámos o adversário. O Belenenses quis marcar, mas nós também. Ganhámos com um jogo suado e colectivamente muito bom. Era sempre fundamental ganhar aqui, frente a uma boa equipa, para manter a vantagem sobre os adversários»

Declarações de Hélder Postiga: «A época do F.C. Porto está a ser boa e isso é bom para qualquer jogador. Era importante, depois da grande exibição de Moscovo, reentrar no campeonato de forma positiva, especialmente em casa de uma equipa que é sempre complicada. Parabéns à equipa pela vitória»