09/11/06

"Heranças" Crónica d'O Jogo de Jorge Maia

Nem sempre é fácil lidarmos com a nossa herança. Eu, por exemplo, perdi rios de dinheiro e horas a fio sentado no sofá do psiquiatra para aprender a lidar com a minha herança capilar. Ou com a falta dela, para ser mais exacto. Mas as heranças são mesmo assim, incontornáveis e, muitas vezes, incontroláveis. É o caso, pelos vistos, da pesada herança que Jesualdo Ferreira vai deixando por onde passa. No Boavista, mesmo sem ter orientado nenhum jogo oficial, o professor construiu um plantel forte e equilibrado, abrindo expectativas de uma temporada de nível europeu, a distribuir dentadas pelos calcanhares dos três grandes. Foi sob o peso dessa herança que Petrovic acabou soterrado ao fim de apenas seis jornadas. No Braga, Carvalhal aguentou um pouco mais. Depois de Jesualdo ter consolidado os minhotos como equipa europeia, reclamando o fugidio título de quarto grande, assegurado precisamente pelos dois quartos lugares em outras tantas épocas consecutivas; depois de ter construído um plantel à prova das sangrias sazonais patrocionadas pela Direcção, Carvalhal foi escolhido para o substituir. O objectivo era fazer melhor do que o professor, mas à nona jornada a herança de Jesualdo fez mais uma vítima. No FC Porto, aonde o professor chegou há pouco mais de dois meses, também havia uma herança. Jesualdo Ferreira herdou um FC Porto campeão, mas não se deixou atropelar. Agora, o que se espera dele no Dragão é, precisamente, que deixe uma herança muito pesada ao seu eventual sucessor. Uma herança gorda a rebentar de títulos. E o herdeiro que se desunhe.

Cem anos"Estou a tentar convencer Jesualdo Ferreira a deixar de fumar, embora seja complicado (...) porque quero que dure muito tempo"
Pinto da Costa

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