30/05/19

Dragões Diário 30-05-2019

A lógica imperou e os campeões europeus de sub-19 também se tornaram campeões nacionais. Na última jornada do Campeonato Nacional de Juniores A, o FC Porto bateu o Sporting de Braga por 2-0, com golos de Ángel Yesid e Romário Baró, e confirmou o título com um ponto de vantagem sobre o Benfica.

Mário Silva tinha consciência de que este último encontro seria muito difícil e ficou satisfeito por os jogadores terem actuado como verdadeiros campeões. No fundo, resumiu o treinador, foi uma época de sonho, que nunca ninguém vai esquecer

Também inesquecível foi a temporada da equipa de andebol, que ontem recebeu o troféu de campeã nacional, quase duas semanas depois depois de ter disputado a final four da Taça EHF e a poucos dias de participar na final four da Taça de Portugal.

Antes da festa de consagração, houve jogo com o Benfica e os lisboetas venceram por 34-31. António Areia assinou dez golos e foi o melhor marcador do encontro. Mais tarde, seria um dos principais animadores dos festejos.


Para ler
A mais recente edição da New Yorker, uma das revistas mais prestigiadas do mundo, dedicou um extenso artigo ao fenómeno Football Leaks. Num texto que confirma a importância das revelações desse blog e a valorização dessa informação pela imprensa internacional e pela justiça de outros países, é ainda abordado o escândalo do Benfica, o maior do futebol português das últimas décadas. Pode ler o artigo completo, em inglês, mas também lhe disponibilizamos a tradução dos parágrafos dedicados à realidade do futebol português:

Também em Portugal, o interesse na Football Leaks tinha caído. Após as primeiras histórias sobre o Sporting CP e o FC Porto, a plataforma passou a focar-se principalmente nas maiores ligas do desporto. Mas, numa tarde de terça-feira nesse mês de Abril, Francisco Marques, o director de comunicações do FC Porto, estava a sair de um restaurante perto do estádio do clube quando recebeu uma mensagem vinda de uma plataforma de e-mails encriptada chamada Tutanota. A mensagem parecia conter um documento interno de media-briefing pertencente ao Benfica, o arquirrival do FC Porto. Marques perguntou ao remetente como podia ter a certeza de que o documento era real. Penso que as imagens em anexo serão suficientes, escreveu a fonte, com imagens da caixa de entrada de três funcionários do Benfica. Uma das imagens tinha sido recolhida trinta minutos antes. Alguns dias mais tarde, Marques recebeu cerca de vinte gigabytes de e-mails internos do Benfica.

A rivalidade entre Benfica e FC Porto tem várias camadas. É o Sul contra o Norte; a capital contra o resto do país; o glamour cosmopolita contra o trabalho honesto. Entre ambos, estes dois clubes venceram a Liga Portuguesa sessenta e cinco vezes. Num país de dez milhões de pessoas, o Benfica alega ter seis milhões de adeptos, uma afirmação que dá asas à ideia de que se trata da instituição mais poderosa no país. Os apoiantes de outros clubes referem-se ao Benfica como o Polvo e à suposta natureza negra da sua influência sobre a sociedade portuguesa como o Benfiquistão. Quando perguntei a Marques se tinha pensado devolver os e-mails, ele riu-se. Não, respondeu. Isto é uma guerra.

Marques tem um programa de televisão no Porto Canal, e, nas semanas que se seguiram, começou a ler os e-mails do Benfica em directo. Excluiu questões mais pessoais e conteúdo obsceno, e concentrou-se nas provas das tentativas do Benfica em controlar o desporto em Portugal. Numa dessas ocasiões, partilhou briefings secretos distribuídos aos comentadores pró-Benfica na televisão portuguesa. Noutra, leu uma correspondência de e-mail que se referia a padres - um grupo de oito árbitros em que se podia confiar para favorecer o Benfica em momentos decisivos - que acabava com a frase Agora apaguem tudo. Havia uma apresentação em Powerpoint, de Junho de 2012, com funcionários do Benfica a estabelecer um plano a cinco anos para dominar o ambiente externo e aumentar o poder do clube junto dos políticos, jornalistas e sistema jurídico de Portugal. Agora é público, disse Marques. Não é justo. A competição não é justa.

No início de Junho, Marques entregou os e-mails do Benfica à polícia. Questionou-se se estariam ligados à Football Leaks de alguma maneira. A fonte descreveu-se como um adepto do FC Porto, mas também como crítico do presidente do clube. Na tarde de 12 de Junho, Marques recebeu um e-mail da Tutanota com quatro anexos, relativo a um acordo que o Benfica tinha conseguido relativamente a impostos sobre terrenos à volta do estádio, em Lisboa. Marques nunca mais ouviu nada da fonte.

A 19 de Outubro, a polícia fez buscas ao Estádio da Luz, no norte de Lisboa. Seis semanas mais tarde, as revelações recomeçaram. Desta vez, a fonte simplesmente publicava os e-mails do clube, sem edição, num blog intitulado O Mercado do Benfica. Havia tantas coisas sujas, disse-me Marques. Os e-mails continham registos médicos e conversações entre funcionários do clube e as suas esposas, juntamente com contratos de jogadores, relatórios tácticos e as finanças internas do clube. Um funcionário de um cargo elevado do Benfica comparou as revelações a sofrer um ataque terrorista. Não sabemos de onde vem o ataque seguinte, ou que tipo de míssil é, explicou. Não sabemos nada. A polícia fez buscas nos escritórios do clube duas vezes nos primeiros meses de 2018. Em Março desse ano, o chefe do departamento legal do Benfica, Paulo Gonçalves, foi detido por haver suspeitas de que teria subornado três oficiais da justiça para lhe passarem informações sobre o caso.

O escândalo do Benfica, o maior do futebol português das últimas décadas, elevou a inimizade entre os dois clubes a novos patamares. O Benfica tem neste momento um processo contra o FC Porto, pedindo dezassete milhões de euros em danos. Quando Marques me deixou no hotel, no Porto, mostrou-me o telemóvel, que todos os dias é inundado de mensagens de adeptos do Benfica, com ameaças de morte. Mudou a minha vida, disse ele, não muito satisfeito. Agora não posso ir para o Sul.

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