01/08/07

"A dispensa tinha areia" Crónica d'O Jogo de José Manuel Ribeiro

A Maratona das Areias é a corrida mais dura do Mundo. Ultramaratona é o termo técnico correcto. São seis dias, dos quais o mais pacato contempla vinte e cinco quilómetros de “jogging” pela paisagem de Marrocos, contra os oitenta e seis da etapa mais psicótica e auto-flageladora. Os regulamentos obrigam a cumpri-los com os pertences entre as omoplatas, incluindo comida para toda a semana, roupa e talvez uns cinco pares de sapatilhas suplentes. A organização só fornece água e tendas. É uma das duas melhores razões que conheço para se pensar segunda vez antes de tentar ensinar a um marroquino o que é uma travessia do deserto. A outra é o Charlton Helston. Entretanto naturalizou-se americano, mas era israelita quando inventou as travessias do deserto nos “Dez Mandamentos”. Para um muçulmano bom entendedor, meio judeu chega perfeitamente, quanto mais um israelita inteiro. O que Tarik Sektioui pôs às escancaras na pré-época do FC Porto foi não só que dispensa lições sobre como atravessar desertos, mas também que podia ter ajudado com as suas apetências nacionais quando os restantes maratonistas de Jesualdo estiveram para se afundar na areia. Por algum motivo, o treinador que o dispensou em Janeiro quis reavaliá-lo em Julho, ao invés de lhe cortar logo o apêndice, como fez com Alan ou Vieirinha. Não foi por estar convencido de ter decidido bem da primeira vez, com certeza. O que nos força a concluir com uma pergunta: depois de um jogo como o Boavista-FC Porto, o que poderia Tarik ter feito mais para demonstrar a Jesualdo que decidiu mal? E a crer no aquecimento global, quem garante que as verdes pastagens de Agosto não desertificam lá para Outubro ou Novembro?
Sektioui: Um nome feio
Se há um tipo de futebolista que me confunde, é aquele que não é ponta-de-lança nem extremo, médio nem avançado. Joga "ali". Jogando acolá, já não se sente bem, sendo que o "ali" vai mudando de longitude consoante os fracassos. Se corre mal no meio, é porque o "ali" era nas alas; se é um desastre na área, é porque ele está talhado para jogar fora dela, etc. Mas o contrário também pode ser problemático. Tarik é um extremo e sendo visto como o extremo que é encalha em Quaresma, Lisandro e Mariano Gonzalez. Mas o que eu vi no Bessa foi o melhor desempenho individual num contra-ataque em algumas épocas de FC Porto. Portanto, e se o problema fosse resolvido chamando-lhe outra coisa qualquer?

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