13/04/11

13 de Abril de 1986: O Sporting indica Viena ao FC Porto

Apenas uma derrota em nove jogos e 21-5 em golos. O frágil Rabat Ajax, da Malta amiga, é o primeiro adversário: 9-0, com póquer de Gomes em campo neutro (Vila do Conde), e 1-0. O Vitkovice é o cliente que se segue: 0-1 na Checoslováquia e 3-0 nas Antas. Nos quartos-de-final, o Bröndby de Schmeichel dá luta, sobretudo em Copenhaga, na segunda mão, quando a eliminatória está empatada durante 24 minutos. Um golo de Juary (1-1) dissipa as dúvidas. Nas meias-finais, o Dínamo Kiev, a base da selecção da URSS que chegaria à final do Europeu-88, é aviado com a mesma receita cá e lá: 2-1 nas Antas e em Kiev. Faltam apenas 90 minutos para a glória. Mesmo sem o goleador Gomes e o defesa Lima Pereira, lesionados, o FC Porto derruba o Bayern, na despedida do carismático treinador Udo Lattek. Quem não se lembra de Viena? Desse 27 de Maio de 1987? Da festa de João Pinto com a Taça nas mãos? Do calcanhar de Madjer? Do 2-1 de Juary? Da jogada individual de Futre à Maradona que não dá em golo por muito pouco? É inesquecível, indeed.
Mas alguém se lembra de como o FC Porto começou essa epopeia? Os mais trocistas podem dizer 1906. Ou 1893. Agora a sério, tudo começou numa tarde de sol a 13 de Abril de 1986, faz hoje 25 anos. Penúltima jornada do campeonato nacional. O Benfica recebe o Sporting e defende a liderança de dois pontos sobre o FC Porto, que vai ao Bonfim, campo do V. Setúbal (12.o classificado). Sem o técnico inglês John Mortimore, castigado pela federação por críticas ao árbitro do jogo anterior, no Restelo, que o Benfica ganha 1-0, de penálti (Manniche), é Toni quem se senta no banco e nunca mais se levanta. O Sporting impõe-se na Luz durante a primeira parte e consolida o domínio com dois golos aos 11 e 22 minutos, por Morato e Manuel Fernandes, ambos tirados a papel químico pela forma como os leões entram facilmente na área pelo meio. Com os ouvidos na Luz, o FC Porto anima. Aos 40'', é canto a favor do V. Setúbal. A bola vai direitinha para as mãos do polaco Mlynarczyk que lança imediatamente para o extremo direito, onde está Futre. Este arranca antes do meio-campo, passa por um, dribla outro, ganha o ressalto e bate o desamparado Miguel à entrada da área: 0-1 no Bonfim.
A segunda parte parece mais longa que nunca. Para o Benfica, que só consegue reduzir com um cabeceamento de Manniche na marca de penálti, para o Sporting, que não ganha na Luz desde 65/66, e claro para o FC Porto, que segura a magra vantagem, embora o Vitória assalte a baliza de Mlynarczyk nos últimos minutos, sobretudo depois da entrada de Jorge Jesus e Jason aos 66''. Quando Carlos Valente (Lisboa) e Veiga Trigo (Setúbal) apitam para o fim das partidas, explosão de alegria na Invicta. O FC Porto tem o mesmo número de pontos do Benfica mas lidera com base na primeira regra de desempate, o confronto directo: 2-0 nas Antas, logo na jornada inaugural em Agosto, e 0-0 na Luz em Janeiro, na estreia de Mlynarczyk, que passa os primeiros 528 minutos da sua carreira na primeira divisão nacional sem sofrer um golo que seja!
Mas calma que ainda falta uma jornada e tudo pode acontecer. O Benfica vai ao Bessa, enquanto o FC Porto de Artur Jorge está no conforto do lar, doce lar com o Sp. Covilhã, último classificado e treinado por Vieira Nunes, ex-jogador do FCP e cunhado de... Artur Jorge. Os serranos dão luta e chegam a pôr-se em vantagem aos 59 minutos, com o bis de Artur Semedo, numa altura em que o Benfica também perde (0-1, golo de Phil Walker). Mas Gomes (61'' e 64'') e Elói (76'') tranquilizam o dragão. O Benfica, esse, continua perdido. O campeonato 85/86 é do FC Porto. Por mérito próprio. E também do Sporting, que lhe estendeu a passadeira vermelha. É aqui que começa a gloriosa campanha para a Taça dos Campeões-87.

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